Para começar, fica aqui uma pergunta intrigante: o que os Beatles, o renomado psicólogo Anders Ericsson, maior pesquisador em ciência da performance, e o escritor Malcolm Gladwell, um dos autores mais famosos dos Estados Unidos, têm em comum? Todos buscaram a excelência em suas áreas e estudaram o que realmente diferencia o desempenho extraordinário do comum. No entanto, o que poucos sabem é como essa busca pela excelência inspirou uma visão poderosa sobre o aprendizado, inclusive o aprendizado de inglês.
Malcolm Gladwell, por exemplo, escreveu o best-seller Outliers, famoso em livrarias de aeroportos ao redor do mundo. Nesse livro, ele popularizou a teoria das 10.000 horas, com base em estudos de Anders Ericsson. Gladwell sugeriu que, para ser o melhor do mundo em qualquer área, seria necessário investir aproximadamente 10.000 horas de prática, citando o exemplo dos Beatles, que tocaram incansavelmente em clubes de Hamburgo antes de alcançar a fama mundial. Mas, a verdade é que esse conceito foi um pouco mal interpretado.
Ericsson, em seus estudos profundos sobre a ciência da performance, ressaltou que não basta simplesmente investir horas na prática de uma habilidade. O que realmente conta é a qualidade e a intenção da prática, o que ele chama de “prática deliberada”. Um exemplo famoso e divertido que Ericsson deu foi a “teoria do cadarço”. Todos nós já investimos bem mais do que 10.000 horas amarrando nossos cadarços ao longo da vida, mas isso não nos torna campeões mundiais no ato de amarrar sapatos. A prática por si só não gera excelência; é preciso prática direcionada, focada e estratégica.
Essa abordagem também se aplica ao aprendizado de inglês. Não é a quantidade de aulas que faz a diferença, mas sim a forma como essas aulas são estruturadas e integradas à rotina e aos objetivos de cada estudante. E eu, como diretor pedagógico, já tive experiências que ilustram bem essa realidade.
Lembro de um caso específico: um diretor de uma grande empresa de aço se matriculou na nossa escola com uma demanda um tanto desafiadora. Ele queria fazer cinco aulas por semana, determinado a avançar rapidamente. Mas, ao propor uma estratégia, minha primeira pergunta foi: “Como você sabe que esta é a melhor abordagem para você?” Como investigador do desempenho dos nossos alunos, logo percebi algo importante: esse diretor já havia desmarcado nossa reunião pedagógica três vezes. Quando, enfim, conseguimos conversar, ele estava no aeroporto, entre um check-in e outro. A pergunta que ficou foi: será que alguém com uma rotina tão cheia realmente teria tempo para se dedicar de forma produtiva a cinco aulas semanais? Será que ele conseguiria estudar e se preparar para aproveitar ao máximo cada aula?
Esse exemplo destaca a importância de um planejamento educacional eficaz e individualizado. Montar planos eficazes vai muito além de simplesmente agendar aulas; envolve um entendimento profundo das necessidades, do contexto e dos objetivos do aluno. E, para isso, é preciso aplicar as regras da prática deliberada, que também são a espinha dorsal da nossa metodologia.
A prática deliberada consiste em quatro pilares fundamentais:
- Objetivos claros e específicos: Cada sessão de prática deve ter um objetivo específico, que desafie e desenvolva o aluno.
- Feedback constante: O aluno precisa de um retorno imediato sobre o que fez bem e o que precisa melhorar, a fim de corrigir o curso.
- Alta concentração e foco: O ambiente de estudo deve ser livre de distrações, permitindo que o aluno se concentre completamente.
- Prática com dificuldades crescentes: Cada passo na jornada de aprendizado deve incluir novos desafios que levem o aluno além do seu nível atual, mas que sejam administráveis.
Concluindo, aprender inglês, assim como qualquer habilidade, não basta praticar ou acumular horas. É preciso ciência, tecnologia e, acima de tudo, coração. Somente com a prática deliberada e uma abordagem estratégica é que o aprendizado se transforma, levando cada aluno ao seu potencial máximo. Afinal, excelência é resultado de fazer a coisa certa, do jeito certo, repetidas vezes – e isso, nós fazemos com paixão.
Geraldo Tinoco
CEO e um dos fundadores do Inglês para Desesperados